O Museu de História Natural de Maputo, com sua fachada Neo-Manuelina erguida em 1933, transcende a função de um mero depósito de espécimes. Ele se estabelece como um dos mais importantes portais de Moçambique para o debate sobre identidade, história e o legado colonial. Ao caminhar por suas alas, fica evidente a sua relevância intrínseca, mas também o dilema estrutural que precisa ser endereçado.
A importância dos museus para o desenvolvimento pleno de uma sociedade é inquestionável. Eles são catalisadores da educação cívica, centros de pesquisa e, cruciais, guardiões da memória coletiva. No entanto, é imperativo reconhecer que a arquitetura do acesso, muitas vezes, confina estas instituições a uma percepção de espaço elitista tornado-o um privilégio de turistas e das classes mais abastadas.
Esta crítica não diminui o valor do acervo, mas questiona o seu alcance. O Museu, para cumprir plenamente o seu papel na nação pós-independência, deve continuar a sua jornada de abertura e popularização. Descolonizar o espaço museológico implica derrubar as barreiras sociais e geográficas que o separam do cidadão comum, integrando-o ativamente na vida das comunidades que ele procura representar.
O ponto de maior impacto emocional e intelectual da visita reside na raríssima exposição dos fetos de elefante. Esta coleção não é apenas uma curiosidade biológica; é um monumento material à violência ecológica perpetrada durante a era colonial, particularmente associada ao período da Primeira Guerra Mundial.
A caça em massa de elefantes, da qual estes fetos são o resultado direto, foi justificada pela necessidade de “limpar” a terra – a sul do Save, em grande parte – para uma suposta e inevitável exploração produtiva agrícola e de infraestruturas. Esta narrativa de “progresso” colonial revelou-se uma farsa, um verniz ideológico para encobrir a pilhagem de recursos naturais e o extermínio desenfreado da vida selvagem. Os fetos expostos servem, portanto, como uma crítica silenciosa e pungente à lógica extrativista e destrutiva do domínio estrangeiro.
Visitar o Museu de História Natural é um ato cívico necessário.Conhecer sua história, desde os artefatos etnográficos até aos espécimes zoológicos é o primeiro passo para desbravar um pouco mais da história de Moçambique e o processo de colonização ao qual grande parte da África foi submetida. O Museu oferece uma oportunidade de confrontar o passado colonial e a consequente aculturação, permitindo-nos ir além da admiração superficial.
Descolonizar a história não significa apagá-la. Pelo contrário, exige-se uma narrativa crítica que exponha as estruturas de poder, a pilhagem e a violência que moldaram a cidade de Maputo (e Moçambique) até aos dias de hoje. É através desta leitura crítica que o Museu se torna uma ferramenta essencial na construção de um futuro moçambicano mais justo, consciente e plenamente soberano.

































